"Nosso desejo é que esta residência tenha um aspeto bem brasileiro. Não pela adoção de elementos da nossa arquitetura colonial - que o progresso técnico e a própria indústria superaram - mas pelo seu fetio derramado e acolhedor, pelas largas varandas protegidas e o velho pátio interno tão peculiar às antigas casas de fazenda. Mas é nosso desejo igualmente, que ela sugira pelo arrojo da sua estrutura o nível técnico do nosso país, as possibilidades do concreto armado que marcam - principalmente no exterior - as características de inovação e liberdade plástica da arquitetura brasileira.

Tudo isso explica os grandes espaços avarandados que projetamos: a preocupação da intimidade, com as salas voltadas para o interior; os quartos sem grandes aberturas, providos de janelas de veneziana e vidro e, num contraste procurado, as grandes superfícies envidraçadas ligando salas e jardins e a estrutura cobrindo a casa como uma placa protetora, mostrando com seus enormes vãos livres o progresso de nossa técnica construtiva.

E podemos dizer que se trata de uma casa térrea como nos sugeriram pois apesar de estar localizada 1mt. acima do solo é nessa cota que chega o caminho de acesso e nela que se situam quartos e salas, solução que os torna indevassáveis de fora como se impunha, e o serviço - semi-enterrado - sem contar no volume arquitetural.

Assim o hall de entrada fica na cota +1, constituido por uma larga galeria que, dentro de um esquema funcional se comunica com a biblioteca, as salas, quartos e serviços e, no semi-enterrado - com as salas de jogos e o cinema. A mesma preocupação de bom funcionamento se observa inclusive no serviço, com a cozinha diretamente ligada aos salões de refeições, ao hall de entrada, aos quartos e no andar inferior, à despensa, frigorífico, lavanderia e alojamentos  de empregados. Mas o centro da composição é o grande pátio interno. Um pátio ajardinado que como um prolongamento das salas se estenda alem da residência até a lagoa. Aí ficam a piscina, e um pequeno embarcadouro. É o lugar de recreio propriamente dito.

Eis em resumo o que nos cabe dizer sôbre esta residência, embora nossas preocupações de arquiteto tenham se ampliado muito mais, imaginando detalhes, procurando fixar a estrutura nos seus vãose dimensionamentos, verificando a localização da casa em relação ao terreno e à lagoa e, principalmente, como ela será vista da estrada. E com esse objetivo elaboramos inúmeros croquis e duas maquetes, redigindo ao mesmo tempo - como sempre o fazemos - este pequeno texto. É a prova dos nove dos nossos projetos pois se nos faltassem argumentos saberíamos que sem dúvida estava deficiente." *1

 

- O palácio localiza-se ao lado do Palácio da Alvorada, às margens do lago Jaburu. *2

 

- No final de 1985, o Palácio Jaburu passou a ser utilizado pelo Itamaraty para hospedar chefes de estado estrangeiros em visita oficial ao Brasil. Em 1990, o palácio voltou a ser a residência oficial dos vice-presidentes da República Federativa do Brasil. *2

 

 

 

*1 NIEMEYER, Oscar. RVP. Rio 10.9.73. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.               

 

*2 JABURU está  pronto para futuro vice. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11 jun. 1989. 1º caderno, p.12.