Obra / Arquitetura

Fundação Oscar NiemeyerMichel MochFundação Oscar NiemeyerMichel MochMichel MochMichel Moch
RESIDÊNCIA DO ARQUITETO NA ESTRADA DAS CANOAS
Ano: 1952
Local: Rio de Janeiro
País: Brasil
Descrição:

 

"Minha preocupação foi projetar essa residência com inteira liberdade, adaptando-a aos desníveis do terreno, sem o modificar, fazendo-a em curvas, de forma a permitir que a vegetação nelas penetrasse, sem a separação ostensiva da linha reta. E criei para as salas de estar uma zona em sombra, para que a parte envidraçada evitasse cortinas e a casa ficasse transparente como preferia."  *1
 
 
"Certa vez, passando pela Estrada das Canoas, achei aquele local tão bonito que resolvi nele construir uma casa. Uma casa diferente, simples, com jardim, uma piscina voltada para o mar, que sempre me atraiu.
Comprei o terreno, acidentado, dando para o mar. A minha primeira preocupação foi não mexer nesse terreno, adaptar-me aos desníveis nele existentes. Daí haver localizado os quartos na parte mais baixa do mesmo e as salas em cima.
E a casa foi projetada. Modesta, sem hall de entrada, simples como, a meu ver, todas deveriam ser.
E a desenhei, solta, criando com toda a liberdade os ambientes que desejava. Uma curva mais fechada formando a sala de estar, uma outra a de jantar, e outra ainda a cozinha, e a cobertura de concreto a reuni-las numa forma única imprevisível.
Era uma casa bem diferente para aquele período em que os equívocos do funcionalismo ortodoxo, embora por tanta gente contestados, se faziam ouvir. Recordo que, ao visitá-la, Water Gropius me declarou: 'Oscar, sua casa é bonita, mas é não é multiplicável.' E fiquei a olhá-lo estarrecido. Multiplicável por quê? Primeiro, não havia razão para isso; segundo, o terreno era acidentado. Mas logo senti que tudo decorria daquelemovimento deplorável que a Bauhaus instituiu, do funcionalismo ortodoxo que defendiam - uma pausa lamentável na evolução da arquitetura.
Hoje, imagino como ele se surpreenderia vendo a casa das Canoas conhecida e visitada com um interesse que até a mim surpreende.
Durante alguns anos morei nas Canoas. Como gostava daquela casa, da grande pedra ali existente que tão bem se integra na arquitetura, da cobertura branca e sinuosa que tanto a caracteriza, das árvores que plantei - pequeninas -, agora com mais de vinte metros, a acentuarem a linha horizontal da arquiteura! Vem-me ainda à memória a pequena ponte que o anjo de Ceshiatti valoriza, e a vista a correr pelos vidros da sala até o mar.  *2
 
 
 
*1 NIEMEYER, Oscar. Residência Canoas, Rio de Janeiro. Módulo, Rio de Janeiro, n.70; p.48, maio 1982.
 
*2 NIEMEYER, Oscar. Casas onde morei. Rio de Janeiro: Revan, 2005. p.24-5