Obra / Arquitetura

UNIVERSIDADE MOURA LACERDA
Ano: 1972
Local: Ribeirão Preto
País: Brasil
Descrição:

 

"Para começar pedimos desculpas pelo atraso. Aliás fácil de explicar. Não desejávamos fazer um projeto qualquer, baseado num programa vago e indefinido.
Familiarizados com o problema achamos que seria melhor elaborar primeiro um programa mais completo, sugerindo cursos, dimensionamentos e etapas necessárias. A primeira, limitada pelo esboço de programa e áreas que nos foram fornecidos; a segunda - a longo prazo - fixando a universidade futura. Para a elaboração desse programa solicitamos a ajuda de nossos amigos brasileiros residentes no exterior, responsáveis pela programação das universidades argelinas, cujo trabalho adiante transcreveremos, estabelecendo um critério pedagógico, as etapas construtivas, os cursos possíveis, as áreas, etc.
Elaborado o programa verificamos que para a primeira etapa foi prevista uma área de 4.600 metros quadrados, ultrapassando portanto a metragem fixada. Mesmo assim resolvemos adotá-la tendo em vista as medidas de economia que propomos e que compensarão o acréscimo de área referido e a nosso ver indispensável para o bom funcionamento da Universidade.
 
Eis em resumo os princípios que sugerimos:
 
1 - Obedecer rigorosamente as curvas de nível, evitando construções que obriguem a movimentos de terra onerosos.
 
2 - Prever todos os edifícios com um só pavimento - térreo - o que elimina estruturas de concreto, permitindo construí-los com muros de alvenaria.
 
3 - Prever para as coberturas, duas hipóteses. Uma, com abóbodas de tijolo e formas deslizáveis; tradição na velha arquitetura portuguesa, solução simples e fácil de construir, importante no caso, pois dará aos que chegam e de longe olham o conjunto, aspecto diferente e variado; a outra, utilizando elementos de laje pré-fabricada (concreto e tijolo).
 
4 - Eliminar as esquadrias de alumínio ou ferro pintado, prevendo vidro fixo entre mainéis de concreto pré-fabricado e para ventilação, elementos pivotantes, horizontais, também adaptados aos montantes (mainéis) de concreto.
 
5 - Prever como acabamento externo e interno, pintura branca, diretamente sobre a alvenaria, ficando em concreto aparente vigas e mainéis pré-fabricados.
 
6 - Prever que os acréscimos futuros possam ser feitos sem prejudicar, nem as construções existentes, nem o bom funcionamentoda Universidade.
 
7, - Utilizar para pisos, placas de concreto ou, se o orçamento permitir, marmorite branco.
 
8 - Padronizar o sistema de iluminação, usando calhas de metal nas paredes abobadadas.
 
Estabelecidos estes princípios e as etapas previstas, estudamos o plano de conjunto, adaptando os diversos edifícios às curvas de nível existentes e às solicitações do programa.
 
Não aceitamos o tipo de Universidade tradicional, com muitos edifícios, um para cada faculdade. Nossa idéia de universidade é bem diferente e tão justa que depois da Universidade de Constantine já iniciamos, na Argélia, mais 3 universidades; a Universidade Científica de Alges, a Universidade de Ciências Humanas e a de Blida. Nelas reduzimos a universidade a 6 edifícios: o bloco de classe e auditórios; o bloco de Ciência (com todos os laboratórios), a biblioteca, a administração, o restaurante e o anfiteatro.
 
Dos dois edifícios servem-se as faculdades, solução lógica e econômica, evitando despesas inúteis de ruas, movimento de terra, estruturas e a multiplicação desnecessária de salas e laboratórios. Dentro desse esquema, numa escala menor, elaboramos o projeto da Universidade Moura Lacerda que passamos a explicar.
 
Quem chegar na Universidade terá, logo à entrada, uma visão geral do conjunto: primeiro, a rua de acesso que passando pelo setor de classes atinge a praça magna. Aí fica o estacionamento que serve a toda a Universidade, e mais próximo a administração e os edifícios que compõem a praça. Nela localizamos a administração, a biblioteca, o restaurante, o auditório e os anfiteatros, estes últimos, situados de tal forma, que da praça a vista possa se estender entre eles pelo setor de ciência até os campos de esporte.
 
Damos abaixo as características dos diversos edifícios:
 
1 - Bloco de classes:
São 4 blocos. Um para a primeira etapa e os outros para a segunda. Prédios de um só pavimento, com galeria lateral e módulos de 6x8m, isto é 50m².
 
2 - Administração:
Um bloco térreo com previsão futura para mais 8 módulos.
 
3 - Anfiteatros:
6 anfiteatros de 100 lugares e 1 de 300 para a primeira etapa e outros (150, 250 e 300 alunos) para a definitiva.
 
4 - Biblioteca:
Previmos uma biblioteca para 700m². Um prédio quadrado com 30x30m, com jardim interno. Inicialmente se construirá somente as paredes perimetrais, o jardim e, internamente, 3 módulos de 10x10m. Esse esquema visa manter, desde a primeira etapa, o volume definitivo do prédio que plasticamente deve contar na composição da praça.
 
5 - Restaurante:
Será um prédio térreo com módulos de 6x10m dos quais somente 2 serão construídos na primeira etapa.
 
6 - Auditório:
Trata-se de construção indispensável, prevista para a 2ª etapa.
 
7 - Bloco de Ciência:
Três blocos térreos, sendo que 1 será construído na 1ª etapa. Terão 4,50m de pé direito e o piso com placas de concreto removíveis para maior flexibilidade das instalações.
O problema da Universidade Moura Lacerda nos atrai pelas carcaterísticas de simplicidade e economia que apresenta. Encontrar a forma compacta e econômica, o detalhe simples, os acabamentos apropriados é, no caso, a tarefa principal do arquiteto. E isso nos interessa particularmente, pois sentimos que a convicção e o idealismo também estão presentes." *1
 
 
*1 NIEMEYER, Oscar. [Universidade Moura Lacerda]. Paris 20.2.72. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.